Descripción
A velhice, atravessada por enfermidades graves, expõe o constante entrechoque entre vida e morte. O transcurso inexoravelmente progressivo de uma doença crônico-degenerativa mobiliza o idoso a confrontar-se com um paradoxo: por um lado, a ameaça de aniquilamento provoca dor, angústia e sofrimento, enquanto que, por outro, impele-o à tendência de ressignificar sua existência, redimensionando perspectivas na busca de um sentido para o viver. A inquietude frente ao insondável limite da vida, radicalizada na consciência da própria mortalidade, exige dos sujeitos idosos assumir uma posição frente àquilo que os aflige. Este trabalho objetiva, pois, compreender os modos de subjetivação de idosos portadores de doenças crônico-degenerativas ante o envelhecer, o adoecer e o morrer. Situa-se a velhice no campo da ética, da estética e das estilizações da existência. Sob essa ótica, encontramos em seus discursos circunscrições dos modos singulares de se subjetivarem, de produzir suas existências e de posicionarem-se perante a vida e a morte. A produção desses modos próprios de subjetivar-se está pautada num modelo ético-estético e político. Os idosos entrevistados procuravam re (criar) e re (inventar) suas próprias velhices; buscavam a invenção de si mesmos como uma obra de arte, construindo e conferindo à vida um estilo particular. Lançamos o olhar para a velhice pelo viés das artes de viver sustentadas pelo cuidado de si, que passa também pelo imperioso cuidar do outro.